sábado, 22 de maio de 2010

24º Esperem por nós!


-Cara obrigado por tudo, por ajudar a encontrar meu irmão, nunca vou esquecer o que você fez por mim...
-Podes crer cara, agora vai, não gosto de despedidas demoradas...apresem-se!
-Obrigado por tudo Rafael...- Agradeço.

Fomos ate a cabana para pegar as coisas que haviam ficado lá, então seguindo para a trilha o silencio invadiu novamente, e inesperadamente ouvimos o Adeus de Rafael...a ultima bala!

Seguindo pela trilha que Rafael nos explicou, ninguém falava nada, o único som que era ouvido era dos grilos na mata no cair da noite. A noite se aproximava mais e mais, estava começando a ficar difícil de enxergar a trilha.

-Olhem aquilo! – Diz Be.
-Entendo...aquilo deve ser a luz da antena do Rádio de Palomas, por ela podemos nos guiar ate chegarmos lá. – diz Alexandre.
-Vamos caminhar mais rápido, só temos mais 1 hora e meia. – lembro.
-Sim vamos... – Concorda ele muito confiante.

Alexandre estava determinado a chegar lá de qualquer jeito, sua aparência estava um pouco diferente e ele não aparentava estar cansado, ao contrario, ele transmitia um ar de determinação e coragem e eu sempre admirei isso no meu irmão. Ele sempre tenta transmitir uma aparência de quem leva tudo a serio, mas na verdade ele tem um grande coração mole que adora uma brincadeira, mas nesses últimos dias a brincadeira esta deixando de ser uma coisa que sempre era vista por nós.

Nossa família nunca foi muito grande, não lembro de ter muitos parentes fora da cidade, aqui só morava meus pais e meu irmão, e uma tia distante que apenas nós visitávamos no verão. Mas com o a morte dos meus pais, não tivemos mais contatos, meus avós morreram antes mesmo de eu nascer e Alexandre foi o único a conhecê-los.

-Esta muito quieto vocês não acham? – pergunta Nairo.
-Tem razão...mas é bom que siga assim, pois não podemos perder tempo – Diz Be, ele para e sente um cheiro estranho –que cheiro de queimado é esse?
-Talvez seja das arvores que pegaram fogo quando o carro explodiu – comento apertando os lábios e olhando para baixo.
-Isso pode ser um problema se não chegarmos lá de uma vez – comenta Alexandre.
-É verdade...– Concordo.

Vejo que Cha estava caminhando ao meu lado e em um silencio profundo, ela só olhava para frente ou para os lados observando calmamente tudo que estava ao seu redor. Sua expressão aparentava muito cansaço tanto no corpo mas como também na mente, ela não agüentava mais assim como todos nós.

Olho sem perceber que Be também não estava nas melhores condições, mas mesmo assim ele não pedia para um descanso, uma gota de suor escorre pelo lado em seu rosto que o faz passar o pulso rapidamente. Eu sentia meus olhos fechando-se pouco a pouco e novamente abrindo-se, sem duvida estávamos todos cansados de toda essa adrenalina que estava em nós a dias.

No meio do silencio que estava ali entre nós, começo a pensar no que aconteceria depois que sairmos da cidade o que cada um iria fazer, será que eu ainda vou poder ir para uma faculdade, conseguir um emprego, ter uma casa e uma família? Tudo dependia em chegar em um só lugar, e esse lugar iria decidir o nosso amanha.

Olhando para o chão úmido e pastoso, reparo que minha visão estava um pouco embasada e vejo também a sujeira de minhas roupas, estavam imundas. Precisaria de um banho bem demorado. Minha calça já estava rasgada no joelho esquerdo formando uma boca com o corte, na minha coxa direita havia outro corte, não muito grande mas era notável.

Reparo que Alexandre estava usando a camiseta preta e listrada com branco com um tribal em forma de dragão no peito, que eu havia dado a ele no ultimo natal.

Sua Mão estava firme ao machado que era de Marcelo, parecia que estava pronto para atacar alguém ou para se defender. Vejo Nairo retirando seu boné deixando cair uma pequena franja em seus olhos, nunca imaginei como seria seu cabelo sem aquele boné laranja com preto. Ele coloca o cabelo para trás com o pé de cabra em baixo dos braços, depois colocando novamente o boné. Não sei como Nairo conseguia caminhar em pleno mato de chortes, eu nunca gostei muito e quando usava era apenas no verão, e ainda sim sempre dava um jeito de usar uma calça jeans em pleno calor.

Um barulho chamo a atenção de todos nós, Alexandre parou na minha frente fazendo eu bater meu rosto nas suas costas e voltar, então o barulho começo a ficar mais intenso, não dava para ver muita coisa a nossa frente, somente a trilha que nós estávamos seguindo.

-O que deve ser? – pergunta Nairo com a voz rouca e baixa.
-Acho melhor não ficarmos aqui para descobrir – diz Be com os olhos bem abertos e empunhando seu machado.
-Tem razão vamos embora – diz Alexandre virando-me para a frente pelo ombro.
-Ai Meu Deus...o que é aquilo? – diz Cha colocando a mão na boca para não gritar.

Vimos os arbustos e arvores de mexerem rapidamente como se alguma coisa enorme estivesse a caminho da gente, seja o que for estava muito rápido e era grande. O barulho começava a aumentar cada vez mais, o suspense e o pânico estavam subindo cada vez mais, cada barulho que essa coisa fazia arrepiava os pelos do meu braço.

-Vamos...Vamos...vamos embora! – grita Alexandre virando de ombros eu e Charlene.
-Droga – diz Nairo apertando os Lábios.

Começamos nossa corrida para o nada, a trilha era nossa única guia, não timos lanternas e nem nada que ajuda-se com a iluminação. O barulho estava se aproximando cada vez mais ou seja lá o que era, mas estava chegando perto. E onde estava a curva que Rafael disse que éramos para ir? Ate agora só corríamos reto. O muro verde que passava por nós quando corríamos era enorme e nunca terminava, ate que Cha estava começando a ficar para trás pois estava exausta.

-Vamos Cha – pego de sua mão para continuar mas acabamos tendo um imprevisto.
-Não agüento mais... – dizia ele com o coração quase nas mãos.


Alexandre e os outros estavam poucos passos a nossa frente, Nairo olhava para trás para ver como agente estava mas não estávamos melhor que eles. Por um mero descuido Cha acaba pisando em um buraco falso que faz eu e ela cair em um buraco deslizando por um barranco enorme.

-EDWARD...CHARLENE... – Grita Alexandre...
-Vamos embora...eles conseguem nos alcançar, vamos- dizia a Voz de Be.

Resvalando no barranco enorme, sentia as folhas secas batendo no meu rosto junto com pastos e plantas. Sentia a Mão de cha segurada em minha perna, mas com um calombo que havia nele fez eu levanta e começar a girar barranco a baixo. E com isso Cha solto minha perna e deslizo rapidamente de costas ate o chão, quando desci completamente o barranco, acabei batendo com a cabeça na arvore em frente.

-Edward... – dizia ela se arrastando ate mim.
-Ahh... essa doeu...que droga! – minha cabeça fazia giros e giros, não foi muito forte a pancada mas fez eu ver passarinhos em cima de mim.
-Ei...você esta bem?- Cha chegou me colocando de joelhos e passando as mãos lentamente em meu rosto.
-Cha...eu só...Bati a cabeça nessa droga de arvore...mas não doeu muito– menti.
-Vamos levanta...acabamos nos perdendo do seu irmão e dos outros, temos que alcançar eles. – A voz de Cha era rouca e estava ficando falhada.
-É...vamos! – concordei tocando levemente no lugar onde eu havia batido e para o meu azar, fico um galo.
-Desculpa por ter te puxado...eu só achei que segurando em você, eu não cairia – dizia ela soltando uma risadinha de leve.
-Não, não é culpa sua...o que era aquela coisa que estava atrás da gente? – pergunto levantando do chão e dando os primeiros passos.
-Não tenho idéia...e pelo visto ela paro de nos seguir – Cha estava me segurando pela cintura e meu braço por cima de seu ombro.
-Os guris e meu irmão devem estar em perigo Cha...vamos!

Começamos a caminhar em direção do nada, subir novamente o barranco era impossível pois alem de não enxergar nada era muito inclinado ainda mais para nós que estávamos na ultima de cansados. Caminhando mato a dentro abrimos uma trilha passando por baixo de arbustos espinhosos, galhos secos que quebrávamos com facilidade.

Sem fala no barulho de folhas secas que estalavam em baixo de nossos pés. O que não deixava a ver silencio por ali, depois de alguns minutos encontramos uma pequena ponte de madeira para atravessar um açude minúsculo que havia no meio da mata.

-Preciso beber um pouco dessa água... – caminho ate a borda do açude para beber, no momento em que agacho e estico os braços para pegar um pouco da água, escuto os passos de Cha atrás de mim.
-Espera...olha aquilo – Charlene segura minha Mão me impedindo de sequer coloca a Mão na água.
- O que foi? – pergunto olhando de canto para cima e vejo ela apontando com o dedo para o lado.

Essa foi por pouco, havia quatro cadáveres açude acima presos em um tronco de arvore. Não havia reparado direito por causa da escuridão que estava, mas a água estava em um tom avermelhado, em outras palavras estava infectada. Logo mais adiante depois da ponte havia mais corpos e eles estavam dilacerados no peito, esparramando suas tripas pela água manchando ainda mais seu tom avermelhado.

-Nossa... – trinco os dentes caindo para trás sentado.
-Pois é...você vai ter que agüenta a cede maninho – dizia Cha me ajudando a levantar do chão úmido e arenoso.
-Bom então, vamos seguir...olha ali tem uma trilha que sobe, vamos ter que seguir por ela. – levanto apontando com o dedo logo em frente a uma trilha.
-Eu sei que já ta chato de dizer isso mas, não temos muito tempo então... – dizia ela.
-Mas é sempre bom ter alguém para nos avisar do... - fui interrompido por uma figura que saiu da água rapidamente se atirando contra agente.

Havia um deles deitado que levanto rapidamente espalhando água para todo o lado, ele era um homem com aparência de quarenta anos, estava usando um macacão jeans com uma alça arrebentada, com uma barba longa que cobria parte de seu rosto, ele tinha uma perna que estava totalmente com as carnes para fora e uma enorme mordida no braço esquerdo. Ele parecia um dos lenhadores que trabalham em uma cabana aqui perto que vendem toras de madeira.

-Cuidado Cha... – empurro Charlene na hora em que ele vinha na sua direção.

Com um empurrão eu caio de costas no chão deixando-o em cima de mim, noto que o facão estava no chão perto da água na hora que eu havia me abaixado. Fecho os olhos e minha boca para não correr o risco de um pingo de água infectada ou de seu sangue pegar em mim, afastando seu peito com meus braços curtos mas o cara era muito forte.

Viro meu rosto para o lado sentindo sua boca batendo os dentes inúmeras vezes tentando me morder, depois de alguns segundos de sofrimento sinto um alivio nos braços, o barulho dos dentes trincando havia parado, foi ai em que eu vejo, Cha havia cravado o facão em seu crânio e retirado no mesmo momento.

Com um chute na barriga ele volta a mergulhar na água vermelha do açude. Ainda sem abrir os olhos limpo meu rosto com a manga da camiseta que estava repuxada ate o cotovelo, abrindo os olhos vejo Cha com a Mão estendida para me ajudar a levantar.

-Obrigado...de novo – retribui com um meio sorriso.
-Vamos...perdemos muito tempo aqui – disse Cha determinada a seguir em frente.

A noite havia caído, deveria ser 20h50min já, e meu aniversario já estava finalmente acabando, o pior aniversario da minha vida. Mancando pela mata seguimos pela trilha encontrada, ela começo a subir lentamente, cada vez mais reparamos que estávamos subindo, e a trilha estava ficando cada vez mais apertada, as folhas das arvores batiam em nossos ombros, então fomos obrigados a andar um atrás do outro.

-Acha que estamos perto? – pergunto Cha segurando a ponta da minha camiseta.
-Não sei...agora que saímos da trilha, vai ser mais difícil da gente encontrar o caminho certo cha... – eu nem se quer olhei para trás, apenas seguia a pequena trilha que estava aos poucos desaparecendo com o cair da noite.
-Tomara que seu irmão, Be e Nairo tenham conseguido encontrar o caminho certo... – sua voz estava baixa e com um tom de tristeza.
-Tenho certeza que eles já devem estar lá cha, tenha calma.

O Cheiro de queimado estava começando a invadir novamente, já dava para enxergar uma pequena nuvem de fumaça na nossa volta. O fogo estava se espalhando mais rápido e ao que parecia estava começando a chegar ate nós. Bem longe dava para ver o fogo se aproximando da gente, como uma onda de fogo que estava tentando cobrir tudo. Começamos a aumentar a velocidade, as folhas dos galhos batiam e rebatiam no meu rosto, mesmo eu tentando desviar eram muitas, a trilha estava começando a acabar e no final dela encontramos 2 barracas destruídas, estávamos em um pequeno acampamento de pescadores da região.

-Que horror... – dizia Cha colocando a mão na boca.
-Uma coisa que temos visto muito ultimamente – comento andando lentamente pelo meio das barracas destruídas.

Havia peixes ainda nos espetos perto de uma fogueira apagada, perto de um corpo de um homem que estava ali, vejo uma coisa presa na sua mão. Era algo com uma cor prateada com detalhes dourados, me aproximo com cuidado dele, mecho em sua Mão e era uma Adaga muito bonita.

-Olha só pra isso...acho que ele não vai precisar disso mais – retiro a Adaga de sua mão e a limpo na camiseta retirando o sangue que havia nela.
-Que linda... – disse Cha se aproximando ao meu lado.
-É...fique com ela Cha., vai precisar – Charlene a pega e a prende junto a cintura.
-Ta Obrigada...vamos embora – disse ela.
-É vamos...espera, olha cha.

Avistamos a Antena novamente do cerro, ela era enorme e dava seu sinal vermelho piscando inúmeras vezes, agora tínhamos certeza que estávamos indo pelo caminho certo. Começamos a andar mais depressa por uma trilha que havia logo atrás das barracas, a fumaça estava começando a dificultar nossa respiração, meus olhos já estavam começando a ficar vermelhos e cheios de água, nunca pensei que o fogo seria outro obstáculo para nós.

-Olha Edward...ali em frente! – aponto cha com o dedo logo atrás de mim.

Havia dois caminhos a tomar, o primeiro que era mais outra trila para o lado esquerdo, e o segundo que havia duas tochas logo na entrada apagadas pressas em ambas arvores de frente para a outra.

-Vamos pela direita... – meio obvio essa decisão.

Continuando rapidamente pela trilha, encontramos na total escuridão uma grande porteira de metal, me aproximo lentamente dela mas não chego a tocá-la. Olho um pouco mais adiante e vejo que dava para avistar o cerro, pelo menos uma parte dele, era enorme e em cima dele havia duas casas grande.

-La esta o cerro...estamos perto! – comento.
-E o que nós estamos esperando? Vamos lá...
-Não cha espera!- Charlene me bate com o ombro passando por mim, tento impedi-la de atravessar mas era tarde de mais.

O portão estava ativado ainda com o sistema de segurança elétrico, eu sabia que avia esse sistema pois meu irmão me conto quando ele veio tenta trabalhar na fabrica de Vinho aqui perto ‘‘ ALMADEN’’. Ele disse sobre a porteira elétrica, e que quase levou um tremendo choque.
O choque foi tão forte que arremesso Cha pra cima de mim, ela fico inconsciente e parecia não estar respirando e sua boca ficou rocha.

-Cha...Cha...ta me ouvindo? Cha...por favor Cha acorda! – coloquei minha mochila em baixo de sua cabeça para acomodá-la. Ela não respirava e estava ficando gelada.
-CHAAA...

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