Pessoas estavam tentando abrir o portão do saguão que levaria ate este pátio. Os braços delas estavam passando pelas grades do portão, ele não estava trancado mais alguns segundos eles arrombariam e iriam vim correndo ate nós. Mas o que esses alunos tinham, estavam com raiva nos olhos e babando, pareciam pessoas que estavam morrendo de fome e nós éramos o prato do dia.
-Fica ai com ele... – corro ate o portão e vejo um pedaço de galho de arvore atirado no canto da parede, o coloco atravessado no portão para que agüente mais um pouco, mas era fino de mais e iria quebrar.
-Aquilo não vai agüenta muito tempo... – diz Marcelo colocando Jeferson no ombro.
-Então vamos...vamos sair pelo portão!
Chegando ao portão ele estava trancado por cadeado, não haveria como pular o portão por que em cima tinha arames que não permitia fuga de alunos da escola.
-Trancado... e agora? – diz Marcelo repondo o fôlego ao meu lado.
-O muro não da pra pula... É muito alto, agente não conseguiria atravessar com o Jeferson nesse estado... – Meu coração estava batendo cada vez mais rápido... Eu já não sabia mais o que pensar em fazer.
-Olha vamos entrar por aquela porta... Vamos o portão não vai agüenta muito Edward – Marcelo já estava correndo na minha frente, então corri para acompanhá-lo.
O portão rangia com a força deles querendo entrar, corremos e corremos ate uma porta de metal no canto do pátio. Um barulho estrondo de madeira quebrando chama minha atenção, o galho que eu havia colocado para trancar o portão finalmente quebra e eles invadem com tudo o pátio da escola.
Não podíamos correr muito, pois podia machucar Jéferson, a camiseta de Marcelo estava suja de sangue nas costas, escorria muito sangue da cabeça dele. Eles eram rápidos de mais, não conseguíamos ter uma distancia longa deles, mas mesmo assim não era motivo para desistir.
Sem ao menos olhar para trás chegamos ate a porta era uma porta cinza com cor de ferrugem, a maçaneta estava toda enferrujada também. Estávamos encurralados, não tínhamos outro lugar para correr, faltavam poucos metros para que nos alcançassem.
-Agente já era cara – diz Marcelo já entregando os pontos, mas não pra mim, nós não saímos daquela aula para ser morto no pátio da escola.
-Para trás Marcelo – Dou um forte chute contra a porta mas nada de abrir, então dando alguns passos para trás eu consigo arrombá-la, meu corpo entra com tudo com a força que eu fiz – Vamos! – grito.
Fechando a porta corro ate uma mesa que avia ali ao lado e empurro contra a porta para bloqueá-la. Marcelo coloca Jeferson no chão e senta ao lado dele para descansar, nossa respiração acelerada ecoava por toda sala em que nós estávamos, alias estávamos dentro do refeitório da escola na parte da cozinha.
-Essa... Passo raspando – Marcelo não conseguia falar depressa por estar exausto da correria, a respiração acelerada estava em nós dois.
-É – sento em uma cadeira e fico com a cabeça baixa olhando para o chão – O que esta acontecendo aqui?...será que todo mundo fico maluco? – pergunto indo em direção ao vidro onde a merendeira entregava os pratos de comida para os alunos.
Através do vidro pude ver o refeitório totalmente destruído e bagunçado, comida espalhada pelo chão, as paredes brancas e limpas, estavam sujas por manchas de sangue, corpos estavam espalhados, alguns dilacerados com possas de sangue por todo lugar.
Ate ontem tudo era normal, 08h00min hora da entrada 10h30min o recreio e 12h30min a saída, alunos nos corredores conversando, jogando, rindo, brincando, time do futebol da escola treinando no ginásio, mas agora parece que isso não vai mais acontecer. Nunca pensei que veria isso na vida real, queria poder fechar os olhos e acorda na minha aula de novo como tudo era antes, o professor explicando o conteúdo no quadro, os meus amigos se atirando bolinhas de papel, na hora da prova as colas indispensáveis.
-Edward temos que chega ate a enfermaria, lá tem curativos e remédios, a cabeça dele não para de sangrar – Diz Marcelo colocando Jeferson novamente no seu ombro.
-Boa idéia... Vamos – fomos em direção a porta que levava a saída do refeitório com muita cautela.
Antes de sair pego uma faca que estava em cima da mesa cravada em um pedaço de carne crua em cima de uma tabua na mesa. Abro a porta e saímos lentamente, nos deparamos com uma cena horrível. O corredor estava cheio de corpos atirados uns em cima dos outros, e alguns dilacerados faltando partes do corpo. Não podíamos correr por que poderíamos resvalar no sangue e fazer o maior barulho, já que não havia ninguém nele, não podíamos chamar atenção com um escorregão.
Caminhando pelo corredor lentamente desviando dos corpos no caminho, passamos pela sala da 6º serie, havia dois deles dilacerando uma menina na mesa da professora, suas tripas estavam a mostra.
Quando vi aquilo veio uma imagem na cabeça de lobos famintos devorando um pedaço de carne, Marcelo também fica impressionado. Se fizéssemos o mínimo ruído eles perceberiam nossa presença ali. Olho para Marcelo e faço gestos com a mão para continuarmos sem os menos falar nada, ele apenas balança a cabeça e continua a caminhar.
A enfermaria já esta perto, temos que passar por mais três aulas. Marcelo começa a perder a força por caminhar com Jéferson por tanto tempo desviando de braços e pernas no corredor, estava muito difícil de caminhar por ali sem fazer barulho, foi verdadeiramente uma carnificina nessa escola.
Marcelo escorrega numa possa de sangue e bate de costas contra parede, não houve muito barulho, mas se ele cai-se no chão seria o fim. Ele permaneceu grudado na parede sem mover um músculo, o suor estava por todo seu rosto, ele sabia que estávamos muito perto de ficar como os corpos que estavam ali no corredor se fizemos barulho.
-Calma, levanta... - O ajudo a levanta falando baixinho.
Ele respira fundo e começa a caminhar novamente, estamos chegando perto da aula da 2º serie, vejo um deles se debatendo contra um armário, ele gritava e batia com os braços fortemente tentando abrir, foi ai que eu consegui ouvir, choros, e ao que aparentava ser de uma criança. Fico sem sabe o que fazer, meu amigo estava machucado e inconsciente nas costas do meu outro amigo que estava exausto de carregá-lo.
Mas se ele conseguisse abrir o armário ele mataria uma criança inocente sendo que eu poderia salva-la ali naquele instante. Droga a enfermaria esta logo na nossa frente, mas se eu for ele vai pega-la.
-O que esta fazendo? - Marcelo não disse nada, apenas mexeu os lábios, mas eu pude entender o que ele queria.
-Vai à frente – faço gestos com os braços para ele seguir em frente.
-Por quê? – Aquela era a pior hora para explicações então eu continuei.
-Vá... Vá logo – finalmente ele entende e continua para a enfermaria.
Entro na sala de aula e vejo um garoto com aparência de Doze anos se debatendo contra o armário, ele vestia um moletom verde escuro que estava rasgado no braço e sujo de sangue, e bermudas jeans. Vou lentamente ate ele pra golpeá-lo de uma só vez na cabeça com a faca que peguei na cozinha. Eu sabia, tem alguém ali preso, e estava chorando. Aproximo-me dele mas por descuido piso em uma madeira de uma mesa que estava quebrada fazendo o maior barulho, ele vira rapidamente para trás apenas gruindo.
Sua expressão me fez tremer por segundo, mas não me contive, coloquei toda força no meu braço e cravei a faca no seu peito, mas não adianto de nada. Com um forte empurrão ele me joga contra o quadro negro logo atrás, ele tentava morder meu peito, mas eu afastava seu rosto com meus braços. Acerto com o joelho seu estomago que o faz recua, quando ele ataca novamente pego a lixeira que estava do meu lado e bato com tudo no seu rosto, ele fica meio tonto, mas torna e me atacar.
Nesse momento pego outro pedaço de madeira que havia ali e fico com sua ponta feito estaca no seu olho, seu grito ecoava pela aula e isso chamou a atenção de mais deles, o silencio e a cautela foram quebrados, na janela da aula cinco começaram a quebrar o vidro tentando entrar. Abri o armário rapidamente acabei encontrando uma menina, ela tinha cabelo preto e liso, com uma calça jeans e uma blusa rosa da Hello Kit chorando, seu rosto suado e molhado de lagrimas e suor.
-Calma ta tudo bem... Vem comigo – Estendo os braços para ela e no mesmo momento a menina da um pulo se abraçando em mim.
Os malditos estavam quase entrando pelos buracos na janela, corro para fora da aula, mas havia mais deles já vindo pelo corredor. Vejo Marcelo ainda no corredor chegando à enfermaria, começo a correr na sua direção tentando não cair nas possas de sangue que havia no corredor.
A menina não mexia um músculo de tanto medo que estava sentindo, seu rosto estava grudado em meu peito, eu podia sentir a respiração acelerada dela nos meus braços tensos, mas tentando mate-los firmes.
-Entra Marcelo – Meu grito ecoou por todo corredor, mas quase não pode ser ouvido por causa dos outros gritos vindo na nossa frente e atrás.
Ele finalmente abre a porta, entramos rapidamente, solto a menina e ela corre para se esconder atrás de uma mesa. Tranco com a chave e ainda coloco um banco contra porta, eles não conseguiriam entrar aqui, pois essa porta é de uma madeira grossa e muito resistente, e as janelas eram reforçadas por fora por grades.
Sento na cadeira olhando diretamente para o teto, tentando me acalmar. Esse dia esta sendo terrível aqui na escola, será que alguém esta tomando alguma providencia? Alguém deve estar sabendo disso tudo aqui e se não sabem uma hora vão ter que saber. Lembro da menina em que eu acabei de salvar, olho para os lados e vejo-a olhando para mim de trás de uma mesa no chão.
-Oi... E ai tudo bem? Venha ate aqui... – estendo o braço tentando parecer calmo e tranqüilo.
Ela sai lentamente de trás da mesa e vem ate mim, com as mãos para trás ela olha para mim com o rosto sujo se suor, seu cabelo estava grudando no seu rosto pela umidade de suas lagrimas.
-Qual é seu nome? – Ela ao menos conseguia falar, mas depois de alguns segundos ela responde gaguejando.
-E... Emily.
-É um bonito nome, eu sou Edward – coloco a mão no peito me apresentando – Você esta bem? – Ela balança a cabeça respondendo que sim, mas ao mesmo tempo balança de volta respondendo que não.
-Edward me ajuda aqui – diz Marcelo ao lado de Jeferson que estava em cima da mesa deitado.
-Eu já volto... Senta ai e descansa – ela reponde balançando a cabeça novamente dizendo que sim.
Vejo que ele estava perdendo muito sangue, o corte havia sido muito profundo, mas havia jeito de fazer um curativo para estocar o sangue, meu irmão me ensinou um pouco de primeiros socorros quando ele estava no exercito, e agora seria muito útil.
-Marcelo me ajuda aqui – colocamos Jeferson sentado na mesa enquanto eu pegava os curativos.
Limpo bem sua nuca com algodão molhado, depois coloco um pouco de mertiolate, passo por fim uma faixa branca de algodão em volta da sua cabeça, e coloco fitas pra prender, não posso fazer muita coisa, pois posso fazer algo errado. Depois de terminado lavo as mãos e tomo um pouco de água, levo um copo para Emily junto com um pano úmido, limpo todo seu rosto tirando o suor, levanto sua franja e vejo um corte bem feio na sua testa, aproveito e já faço um curativo.
Marcelo vai ate a parte do fundo da sala pra ver se acha alguma coisa que sirva como arma, mas não encontra nada. Fico sentado ao lado de Emily pensando em o que faríamos a partir de agora, aonde iríamos? Como sairíamos dessa sala? Emily puxa minha camiseta e apontando na direção de Jeferson.
-O que foi Emily?
Jeferson estava levantando da mesa, com uma cara de perdido sem noção de onde ele estava.
-Nossa cara que sonho mais estranho... Eu sonhei que agente tava descendo pelo mastro da bandeira da escola fugindo da nossa sala de aula por que uns malucos queriam nos matar a mordidas e... – acho que ele se toca depois que viu onde estava e minha expressão de cansado e minha roupa suja – Pêra ai... Isso aconteceu mesmo?
-É infelizmente sim... Como esta se sentindo? – pergunto.
-Minha cabeça ta explodindo... Cadê o Marcelo? – pergunta Jeferson olhando com a maior cara de perdido pra mim.
-Aqui... Ainda bem que você acordou cara, não agüentava mais carregar você nas costas – Marcelo estava encostado ao lado da prateleira de remédios.
-Foi mal – Jeferson da um risinho para não estragar o clima, mas ele não consegue fazer isso – O que aconteceu lá na aula na hora em que saímos em?
O silencio invade a sala.
-Devemos voltar ate lá e ver se tem alguém vivo – Era a coisa que eu mais queria naquele momento, meus amigos estavam lá, a Cha minha melhor amiga estava lá, não podia simplesmente esquecer.
-Acho que é pura perca de tempo, já é tarde de mais – diz Marcelo pouco se importando com os outros.
-Como pode dizer isso sem ao menos ter certeza? – Emily se assustou com meu tom de voz que se encolheu na cadeira.
Mais uma vez o silencio permaneceu, mas eu não dependo deles para saber se meus amigos lá estavam seguros. Eu preciso saber, mesmo que eu tenha que me arriscar, é meus amigos poxa.
-Então vai ser assim... Vocês tentam sair daqui com a Emily que eu vou ate nossa aula.
-Você vai morrer na metade do caminho – diz Marcelo olhando para o lado.
-Prefiro morrer tentando a fica de braços cruzados esperando a morte chega feito um covarde como você Marcelo – Dessa vez eu o encarei nos olhos.
Ele me encarou por alguns minutos e se desencostou da prateleira como se fosse me atacar. Jeferson mais uma vez quebra o silencio que ficou entre agente.
-Cara não faz isso... Você por sorte conseguiu chegar aqui vivo, quem dirá ate nossa sala – Por um lado ele estava certo, tive muita sorte.
-É com essa mesma sorte que eu vou arriscar de novo – Pego minha faca e a coloco na cintura.
-Então eu vou com você Edward – diz Jeferson levantando da mesa.
-Você acabou de se recuperar, se você for vai só me atrapalhar, é melhor você ficar aqui e cuidar da Emily – começo a retirar o Sofá da porta, já que as batidas na porta haviam parado era a oportunidade de sair.
-Cara você é muito convencido – Diz Jeferson.
-Emily eu vou voltar assim que eu puder viu? Eles vão fica aqui com você – Me ajoelho na sua frente, ela se abraça em mim chorando, me dava pena de ver ela daquele jeito, mas eu não poderia levá-la, ela poderia morrer.
-Minha professora ela disse a mesma coisa antes de me trancar no armário... – disse ela sem ao menos me olhar.
-Como assim Emily? – pergunto afastando ela de junto do meu peito para ver seu rosto.
-Ela me tranco no armário e disse que voltaria para procurar ajuda, mas não voltou, e o mesmo vai acontecer com você! – Essa historia me fez engolir seco.
-Isso não vai acontecer, eu vou voltar – dou uma piscadela pra ela – Jeferson toma conta dela viu.
-Bom eu nunca fui baba, mas eu vou dar um jeito- Jéferson responde rindo - Claro que cuido cara, como não poderia depois do que vocês fizeram por mim, mas você se cuida mais ainda!
-Pode deixar... – Vou ate a porta e a abro lentamente empunhando a faca.
No corredor, uma sensação horrível de morte estava me envolvendo, o sopro de morte estava na minha orelha que fazia eu tremer ate a espinha. Bom mas agora não é hora de ficar com medo, vamos em frente. Olho para trás e vejo Emily me observando pela fresta da porta que estava se fechando pouco a pouco, Marcelo estava no fundo da sala de braços cruzados e logo ele deu um pequeno sorriso malicioso.
-Vamos lá!
terça-feira, 7 de julho de 2009
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